segunda-feira, 28 de abril de 2008

Fantástico o que Celina Bruniera escreve aqui :
Vale a pena ler .

"Ao lermos um texto escrito, o sucesso de nossa leitura se dá na medida em que procuramos estabelecer uma interação com o autor. Se considerarmos que o leitor é um agente, que não tem um papel passivo durante o ato de ler, mas que é um sujeito que atribui significado ao texto, que procura as pistas deixadas pelo autor, que busca se aproximar do sentido que este quer dar ao texto, podemos fazer da leitura um lugar onde há reciprocidade.
Em relação aos textos do gênero argumentativo (artigos, editoriais, cartas de reclamação, etc.), textos em que se procura convencer o leitor a aceitar uma opinião ou mesmo adotá-la para si, desvendar as intenções do autor materializadas em argumentos que sustentam uma posição e em evidências que, por sua vez, ancoram os argumentos, significa estar aberto a rever suas próprias opiniões.

Nossas pré-noções
Quando lemos, nem sempre estamos atentos às pistas textuais, aquelas dicas deixadas pelo autor para que nos aproximemos do que este quis nos dizer. Muitas vezes, isso ocorre porque - ao usarmos todo o nosso conhecimento prévio (lingüístico, textual e de mundo) na ação de ler - o sentido que atribuímos ao texto é mediado por nossas pré-noções.
Aquilo que pensamos sobre o assunto em questão, nosso conhecimento do gênero textual e da língua nos conduzem a elaborar algumas hipóteses sobre o texto. No entanto, um leitor cuidadoso e interessado deve rever a pertinência de suas hipóteses ao longo da atividade de leitura e buscar se aproximar da intenção comunicativa.
Alguns elementos do texto podem contribuir muito para que isso seja possível, sobretudo quando se trata da leitura de um texto em inglês ou em outra língua estrangeira. Isso porque como o texto não é escrito na nossa língua e, portanto, não dominamos muito bem as características do contexto sociocultural em que se deu a situação de produção discursiva, encontraremos mais dificuldade em nos aproximarmos de suas intenções. Para esse esforço ser minimizado, vale a pena conhecer como o texto foi elaborado.

A elaboração do texto
O texto objeto de nossa análise é uma resenha de um livro supostamente de interesse de áreas como economia, ciências humanas, meio ambiente e planejamento. Uma leitura rápida dos elementos destacados no texto nos fornece essas informações. Basta ver o rodapé em que essas áreas e o preço do livro são revelados, e o que está escrito entre parênteses.
Em geral, as resenhas de livros veiculadas nas capas dos mesmos têm como intenção convencer o leitor de que sua leitura vale a pena. Além disso, procuram apresentar o tema tratado na publicação e o enfoque dado a ele. Assim, apresentam um viés argumentativo muito explícito, tanto no sentido de convencer o leitor a ler o livro como no sentido de promover sua adesão ao enfoque dado ao tema.
A informação trazida entre parênteses e o título da resenha nos sugerem que a resenha aborda o tema da fome. Antes de ler, tente imaginar como esse tema será apresentado no texto e, ao ler, procure checar suas hipóteses.

Why are so many hungry?
A Pelican Original
“If it takes you six hours to read this book, somewhere in the world 2, 500 people will have died of starvation or of hunger-related illness by the time you finish.
Why are so many hungry ? Susan George affirms with conviction, and with solid evidence, that it is not because there are too many passengers on ‘Spaceship Earth’, not because of bad weather or changing climates, but because food is controlled by the rich. Only the poor go hungry.
The multinational agribusiness corporations, Western governments with their food ‘aid’ polices and supposedly neutral multilateral development organizations share responsibility for their fate. They all work in cooperation with local elites, themselves nurtured and protected by the powerful in the developed world. United States agripower paves the way, leads the pack and is gradually imposing its control over the whole planet.
Only those fortunate people who can become consumers will eat in the Brave New World being shaped by the well-fed. The standard liberal solutions to feeding the world -- population control or the Green Revolution -- are just what the hungry poor don’t need. All they need is social change, otherwise known as justice. With that, they could, and would, resolve most of their problems themselves.’
Cover design by John Carrod, photograph by Rod Stone
Economics
Science
Environment and Planning
United Kingdom £ 1,00
Canada $ 2,50
(back cover of How the other half dies by Susan George)

Para nos aproximarmos das intenções do texto, um dos elementos que merecem destaque é o uso do léxico, mais precisamente a escolha das palavras, dos substantivos, verbos, adjetivos e advérbios.
Ao apresentar a tese da autora sobre as razões que levam as pessoas a morrerem de fome (a comida é controlada pelos ricos), notamos a força expressiva de certos advérbios, tais como many ("hungry") e only ("the poor"). Ainda nesse mesmo parágrafo, é fácil perceber que a opinião da autora é ressaltada por meio do verbo to affirm e do substantivo conviction ("Susan George affirms with conviction"), além do adjetivo solid ("evidence").
Nesse segundo parágrafo, é possível notar que o uso dos conectivos because (sobretudo em "because de food is controlled by the rich") e but garantem, respectivamente, a explicitação do que leva as pessoas à fome e a oposição da tese da autora em relação a outras teses veiculadas sobre o mesmo assunto.

Para refletir e motivar
Antes desse parágrafo, porém, o texto nos oferece um parágrafo introdutório no qual a relação estabelecida entre o tempo médio despendido para a leitura do livro e o número de pessoas que morrem de fome ou em virtude de doenças relativas a ela sugere a reflexão acerca do tema e motiva o interesse pela leitura da resenha e, conseqüentemente, do livro.
No terceiro parágrafo, o texto levanta uma série de evidências que, apesar de generalizantes, dão força à tese defendida e ampliam nosso conhecimento sobre o tema. No caso, vale a pena realizar uma análise do voaculário utilizado e dos elementos mobilizados pelo texto para ancorar a tese defendida. Tente fazer o movimento que fizemos em relação ao segundo parágrafo e identificar com mais propriedade a intenção comunicativa do texto.

* Celina Bruniera é mestre em Sociologia da Educação pela USP e assessora educacional para a área de linguagem.
http://educacao.uol.com.br/ingles/ult1703u28.jhtm

A TESE DO AUTOR E SEUS ARGUMENTOS :

Em
As intenções do texto(1) já iniciamos a análise da resenha "Why are so many hungry?". Essa análise tem buscado evidenciar as pistas deixadas pelo autor para materializar sua intenção comunicativa. Reproduzimos a resenha novamente.

Why are so many hungry?
A Pelican Original
“If it takes you six hours to read this book, somewhere in the world 2, 500 people will have died of starvation or of hunger-related illness by the time you finish.
Why are so many hungry ? Susan George affirms with conviction, and with solid evidence, that it is not because there are too many passengers on ‘Spaceship Earth’, not because of bad weather or changing climates, but because food is controlled by the rich. Only the poor go hungry.
The multinational agribusiness corporations, Western governments with their food ‘aid’ polices and supposedly neutral multilateral development organizations share responsibility for their fate. They all work in cooperation with local elites, themselves nurtured and protected by the powerful in the developed world. United States agripower paves the way, leads the pack and is gradually imposing its control over the whole planet.
Only those fortunate people who can become consumers will eat in the Brave New World being shaped by the well-fed. The standard liberal solutions to feeding the world -- population control or the Green Revolution -- are just what the hungry poor don’t need. All they need is social change, otherwise known as justice. With that, they could, and would, resolve most of their problems themselves.’
Cover design by John Carrod, photograph by Rod Stone
Economics
Science
Environment and Planning
United Kingdom £ 1,00
Canada $ 2,50
(back cover of How the other half dies by Susan George)

Já havíamos analisado os dois primeiros parágrafos do texto e deixamos como atividade que você analisasse os dois parágrafos finais. E isso é o que faremos aqui.

Ressaltar evidências
Já dissemos que a tese apresentada por Susan George, autora da obra "How the other half dies" e reproduzida na resenha, é explicitada no segundo parágrafo. Susan George afirma que há muitas pessoas com fome porque a comida é controlada pelos ricos. Tendo deixado clara a posição a ser defendida, o texto caminha no sentido de ressaltar os argumentos e evidências que lhe dêem sustentação.

O terceiro parágrafo apresenta as corporações multinacionais de agronegócios, as políticas de "ajuda" dos governos ocidentais e as organizações de desenvolvimento multilateral como responsáveis pelo destino dos pobres, únicos que passam fome. Observe que o uso do advérbio supposedly (supostamente) e do adjetivo neutral (neutras) evidencia uma opinião acerca das organizações de desenvolvimento multilateral.

Ainda nesse parágrafo, vale notar que o adjetivo powerful ganha status de substantivo quando o texto afirma que os responsáveis pelo destino dos pobres trabalham em cooperação com as elites locais e que estas são alimentadas e protegidas pelos poderosos (powerful) no mundo desenvolvido. Aqui o texto revela um recurso discursivo bastante comum, isto é, o uso de nomes (substantivos) para se referir a alguém ou alguma coisa e, dessa forma, revelar como se quer qualificar esse alguém ou essa coisa.

Um último aspecto a ser ressaltado no terceiro parágrafo diz respeito ao uso dos verbos to pavê (pavimentar), to lead (liderar) e to impose (impor) para se referir ao poder exercido pelo setor agrícola norte-americano em relação ao controle da comida ao redor do mundo.

Mundo dos bem-alimentados
No último parágrafo, a resenha apresenta as conclusões a que chega Susan George em seu livro "How the other half dies". A primeira conclusão é a de que terão comida apenas aqueles que puderem se tornar consumidores num mundo desenhado pelos bem-alimentados. Essas pessoas que terão acesso à comida são qualificadas como fortunate people (pessoas com sorte) e viverão no "Admirável Mundo Novo", uma alusão à obra de Aldous Huxley ("Brave New World"), em que as relações sociais se mostram pautadas na completa separação entre os ricos e os pobres e a vida dos ricos é marcada pelos avanços tecnológicos e pela racionalização de todas as esferas da vida. A alusão a essa obra consiste em mais um elemento significativo para nos aproximarmos das intenções do texto.
A segunda conclusão apresentada pela resenha da obra é a de que a Green Revolution (uma revolução na agricultura) não resolveria o problema dos pobres famintos (observe a adjetivação the hungry poor). Essa revolução é caracterizada no texto como uma das típicas soluções liberais para alimentar o mundo (standart liberal solutions to feeding the world). A última conclusão a que chega Susan George é de que para resolver o problema daqueles que têm fome é preciso mudança social (social change), também conhecida como justiça (justice).

http://educacao.uol.com.br/ingles/ult1703u28.jhtm