quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Vincent Benedicto17/08/2005

Internalizar? Essa é a coqueluche do momento.

Você conhece esse verbo?
O que será realmente isso?

Antigamente logo após a época dos computadores movido a carvão os famosos "XT’S", conhecemos uma palavra que ficou familiar.
A Inicialização.
Com a chegada dos novos computadores no mercado os 286’s da vida, vinham com o sistema operacional Windows 3.1, que quando abria, aparecia na telinha " aguarde a inicialização do Windows".Então era a inicialização de um projeto, de um programa, de uma construção, de um discurso enfim... tudo era inicializado.Os políticos foram os primeiros a usar o verbo de uma forma constante.Ouvi muito discursos na TV do tipo. Agora vamos inicializar uma nova campanha contra aids, contra o fumo e etc...De uns tempos para cá, os mesmos políticos aplicaram em seus vocabulários um outro verbo.

O verbo Contabilizar.
Trocaram a palavra "caixa dois" por dinheiro não contabilizado.Mas, como os nossos ilustres e honrados parlamentares são humoristas renomados, criativos, acharam por bem trocar esse verbo que na realidade fizeram-no de sinônimo.Trocaram então pelo verbo Internalizar.Essa idéia deve ter partido de algum corrupto interno, como o próprio nome já diz.Quando se referem a dinheiro não contabilizado não admitem que é caixa dois, mas sim dinheiro não contabilizado e por isso o mesmo não pode ser internalizado.E outros vão além.

Como é o caso do tesoureiro do PL Jacinto Lamas que por ironia do destino foi vítima do próprio nome e recebeu mais de 10.000.000 do valérioduto e apenas disse que ía se encontrar com a secretária do Valério porque estava cumprindo ordem do presidente do PL, e que na realidade não abria os pacotes chegando ao ponto de dizer que não sabia o que continha no mesmo.E o maior barato é que eles afirmam com tanta convicção que acabam acreditando em suas mentiras.Já o tesoureiro do PTB pau mandado do nosso "Tenor Bomba" Roberto Jefferson, afirmou que não distribuiu o dinheiro pago pelo PT-ODUTO, porque o mesmo não era internalizado no partido.Parece até papo de maluco uma conversa dessas.O Sr. Delúbio Soares usou o seguinte termo:"Nós recorremos ao empréstimo. Como os recursos não eram contabilizados, nós não poderíamos Internalizar esses recursos no PT".A moda pegou. A imprecisão vocabular do ex-tesoureiro tinha uma explicação: a busca - desastrada, à moda do personagem – de eufemismos que lhe diminuíssem a culpa: recursos não contabilizados em vez de caixa 2, internalizar no lugar de escriturar ou contabilizar recursos ilegais.Bem menos sentido faz a palavra desde que passou a ser repetida por parlamentares nas CPIs, agora sem a desculpa do eufemismo".Internalizar" é um anglicismo do vocabulário da psicanálise e tem sentido muito preciso: introjetar, adotar inconscientemente idéias alheias como se fossem próprias. Mais ou menos o que os nobres parlamentares estão fazendo com as noções delubianas sobre o léxico.Não, Internalizar não é, embora possa parecer, apenas uma forma besta de dizer "pôr para dentro". Ou pelo menos não era.Depois da crise atual – que é política, mas também de sentido – nunca se sabe.

Quem ficará surpreso se amanhã, depois de horas de interrogatório, algum deputado faminto pedir à mesa dez minutos de intervalo para que todos internalizem um lanchinho?Na realidade essas figuras tinham que ser internalizados em cadeia de segurança máxima.Tem mais...

Pelo menos desde o século 17, a tradicional expressão "fazer jus" significa merecer ou tornar-se merecedor. Não na linguagem do deputado José Carlos Araújo (PL-BA), que ontem, na CPI do Mensalão, inventou que o dinheiro repassado a parlamentares por Marcos Valério servia para "fazer jus a despesas de campanha". Provavelmente quis dizer "fazer frente". Fez jus ao troféu de imprecisão vocabular do dia.Mas a criatividade de nossos parlamentares vão muito além, de onde nossa mente humana pode alcançar.O próximo verbo agora é Indenizar.Com requintes de esperteza e manhas de viciado corrupto, foi pioneiro com a criação da verba indenizatória, inaugurada pelo desditoso deputado João Paulo Cunha, ora agraciado com a inclusão na lista dos encaminhados pela CPI dos Correios à Comissão de Ética, para a abertura do processo de cassação dos mandatos. Candidato a presidente da Câmara, o petista comprometeu-se com o baixo clero a criar a verba indenizatória, que é, nada mais nada menos, o mensalão legalizado pelo truque semelhante ao do baralho com cinco ases.

O que é a verba indenizatória? Um salário extra disfarçado, com o crédito de R$ 15 mil mensais para que o senadores e os deputados sejam reembolsados, mediante a apresentação de comprovantes das despesas, que o comum dos mortais paga com o que ganha com o seu trabalho.E como já era de se esperar, internalizaram só DEUS sabe onde, a documentação sobre uma retirada feita no Banco Rural no dia 30 de dezembro de 2003, incluindo cópia do cheque número 413794 – de numeração próxima à de outros cheques comprovadamente destinados ao caixa 2 do PT. Simplesmente desapareceu dos arquivos da CPI dos Correios. E continua sem resposta a indagação sobre quem pagou uma dívida de 29,4 mil reais do presidente Lula com o PT no final de 2003.Quem foi?Agora com todo o respeito que tenho por você leitor, permita-me fazer um um desabafo. "VÃO PRA PUTA QUE O PARIU ESSES CANALHAS!"Eles são a lei. Fazem o que bem entendem. Verba indenizatória!!!Só essa que faltava!E enquanto os fornos são aquecidos nas CPIs para uma bela pizza a "la Delubiana", O salvador da pátria, inocente, Luis Ignacio Lula da Silva viaja pelo país usando uma fraze roubada do Zagalo.Vocês vão ter que me engulir!!!Só esquece de complementar, que já esta internalizado a internalização da internalizada corrupção.
Vincent Benedicto
Publicado no Recanto das Letras em 02/09/2005Código do texto: T46944